quarta-feira, 5 de novembro de 2008
terça-feira, 20 de maio de 2008
Gervásio, talvez o mais compulsivo dos apostadores em cavalos que conheço, tem gravado em fogo na memória o instante em que decidiu entrar em um caixa eletrônico do Banrisul, no centro de Porto Alegre, para verificar se ainda tinha crédito para mais um empréstimo vinculado ao seu já combalido holerite de servidor do Estado. Noivo há muitos anos e beirando os 40, é preciso dinheiro para consumar um casamento que já não sabe mais como adiar.
Gervásio fica então sabendo que seu salário ainda comporta uma prestação de 400 reais, só acessível, porém, se o empréstimo for contratado em 72 meses. Já esquecido do casamento, mas de olho nas próximas carreiras, meu amigo não tem dúvida: aperta as teclas “milagrosas” e saca na hora 3 mil reais.
Nem é preciso dizer que a grana vai se esfarelando em picks, trifetas e quadrifetas, uma grande parte em apostas paralelas, “um na frente do outro”, modalidade em que Gervásio se julga especialista. Ao cabo de um fim-de-semana, não sobram sequer os trocados para pagar o cartório.
Meu amigo agora vaga de porta em porta, à procura de quem lhe possa doar azulejos, portas e janelas, cimento e material elétrico para, enfim, poder terminar a casinha que começou a construir há sete anos em um terreno do bairro de Camaquã. A futura esposa nem de longe desconfia que o contra-cheque do noivo terá saldo líquido de apenas 17 reais até 2014.
Gervásio, porém, é ligeiro e duro. Nunca esmorece. No momento, move uma ação contra o banco, exigindo que lhe sejam descontados apenas 30% do salário. Enquanto isso, sonha que acabará por encontrar um jeito de driblar o azar e fechar sózinho um Pick 8, várias vezes acumulado. E, ao invés de uma casinha em Camaquã, oferecer um apartamento de cobertura em Menino de Deus à noiva, pelo visto também dura na queda.