quarta-feira, 28 de maio de 2008

Zagaia, puro veneno

Inimigos cordiais, Chico e Zecão. Em toda santa reunião, lá estavam eles, armando apostas paralelas. Com total vantagem para o primeiro, cara bem informado, freqüentador de cocheiras.

Até o dia em que Zecão comprou um cavalo só para ter motivo para se misturar aos profissionais, nos matinais. Sua busca não era por barbadas, mas por informações sobre o estado físico de prováveis favoritos. Tinha idéia fixa, quase uma obsessão: dar o troco ao Chico, deixando-o só de cuecas.

Naquela noturna, Zecão estava armado de informações preciosas. Artimanha daqui, artimanha dali, acabou por montar várias paradas muito favoráveis.

Lá pelas tantas, sem saber o que estava acontecendo, Chico foi esvaziando os bolsos até ao ponto de só lhe restarem as roupas do corpo. As mesmas que ele deu como garantia de uma última “parada”. Foi ao banheiro, despiu-se, entregou tudo ao adversário, mas ainda confiante de que a égua Zagaia, com trabalhos assombrosos, lhe devolveria todas as suas perdas.Pobre Chico, não sabia que a égua estava dodói de um casco, prontinha para um completo fracasso.

Ainda fechado no banheiro, nu e com frio, Chico, estarrecido, ouviu o narrador anunciar que o jóquei de Zagaia desistira da corrida na entrada da reta. Pálido e desconsolado, o indigitado se perguntava: o que fazer agora? As tribunas se esvaziaram rapidamente, como sempre acontece nas noturnas, e logo depois já não havia níngüem por ali.

Só muito depois, o nosso “paradista” foi salvo por um guarda noturno que tivera a santa idéia de fazer xixi naquele banheiro. Em casa, madrugada alta, Chico ainda sentia na pele o significado da expressão corriqueira entre jogadores compulsivos - “...e perdi até as calças”. E o pior é que não conseguiu devolver a sova ao Zecão, semanas depois vítima de um fulminante enfarte em plena sociais.

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