quarta-feira, 7 de maio de 2008

O caminho das pedras

Partindo do fato de que corrida de cavalos está longe de ser uma ciência exata, tipo loteria ou jogo-do-bicho, e sem qualquer presunção, posso lhes assegurar que aprendi o suficiente, à custa de muito dinheiro, sobre a ingrata tarefa de como apostar nos cavalinhos sem errar demais. Tanto isso é verdade que ousei criar este espaço com a pretensão de facilitar a vida dos apostadores, o que, para minha satisfação, parece que estou conseguindo diante da quantidade de acessos ao blog.

Aproveito então o ensejo para explicar como analiso as carreiras, na expectativa de que isso venha a acrescentar algo mais aos métodos de escolha de cada apostador. Os principais itens que considero em uma análise são: enturmação, retrospecto, jóquei, baliza, ritmo de corrida, raia e, principalmente, tempos obtidos por cada competidor em suas últimas corridas.

Detalhando:

1) Enturmação: por ela, é possível avaliar o potencial de cada competidor em relação aos adversários que vai enfrentar. O difícil é destrinchar os claimings, provas que misturam, quase sempre, animais de idades e enturmações diferentes;

2) Retrospecto: indica ao analista como o animal tem se comportado em carreiras prévias: posição em que chegou, a que distância do primeiro colocado, que tempo corrigido assinalou, com que peso correu, se manteve, perdeu ou manteve seu peso físico, etc.;

3) Jóquei: é fundamental estar a par das qualidades e defeitos do ginete envolvido, uma vez que a maioria dos páreos, especialmente os mais equilibrados, é vencida por animais pilotados por ginetes em melhor posição na respectiva estatística de jóqueis;

4) Baliza: analiso a posição de largada tendo em conta as características do animal. Como regra geral, os ligeiros levam vantagem quando largam por fora dos demais, pois rapidamente podem pegar a ponta e, encetando uma diagonal, livrarem vantagem justamente em uma área decisiva do percurso, a curva final; de modo inverso, os atropeladores se dão melhor em balizas internas, que lhes proporcionam menos riscos de prejuízos;

5) Ritmo de corrida: Animal ligeiro (que pode ser identificado por sua posição na entrada de reta em carreiras anteriores) normalmente leva muita vantagem quando não existem outros velozes para incomodá-lo, e ficam prejudicados quando se envolvem em briga prematura. É comum um cavalo inferior em poderio locomotor, mas na condição de único ligeiro, cruzar o disco na frente de outros superiores só porque poupou energias na primeira parte do percurso para suportar a carga dos atropeladores. (Pena que Cristal, Tarumã e São Vicente não tenham nos respectivos retrospectos a posição de entrada de reta dos inscritos).

6) Raia: A genética é quase sempre infalível: filhos de pais gramáticos correm mais na grama, filhos de pais arenáticos se portam melhor na areia, e filhos de pais lameiros, lameiros serão. Para não falar de pais que produzem filhos sem preferência de raia. Assim, é preciso conhecer um pouco de raça para identificar as preferências de reprodutores e matrizes.

7) Tempo: De todos os fundamentos citados, o mais significativo, a meu ver, são as marcas cronométricas médias de um corredor. Sei, por experiência recorrente, que um animal que corre para 80” nos 1.300 metros da areia, por exemplo, jamais perderá para outro que não baixa de 81”, a não ser por acidente de percurso. Para facilitar a equação para tempos corrigidos, tenho por base que um segundo significam 10 corpos. Assim, um corredor que chegou a 10 corpos para 88¨ terá como marca corrigida 89¨. Já para a raia de grama (sem as famigeradas cercas moveis), o parâmetro é de cinco corpos para cada segundo. (Em páreos no quilômetro, vale demais a direção e a intensidade do vento). Aqui, cabe uma observação: a CC da Gávea teima em não graduar o estado da raia de areia em caso de chuva. Assim, a sigla AP identifica “todas” as raias pesadas. E é sabido que raia encharcada (com água) é muito diferente de raia lamacenta, sem água, para efeito de tempo. Um dia, quem sabe, seja eliminada essa falha, que tanto dificulta o analista.

Nada do exposto acima, amigos, quer dizer ganhos na certa. Todos temos ciência que há muitos fatores não-mensuráveis interferindo no resultado final de um páreo, tais como más largadas, prejuízos no percurso, manqueiras, hemorragias ou joqueadas desastradas, para citar apenas alguns. Mas, de um modo geral, se levados em conta os principais fundamentos de análise aqui detalhados, o carreirista estará mais próximo de acerto do que aquele que só aposta por mera advinhação.

Um comentário:

Rodrigo S. disse...

Olá,
Obrigado pelas dicas!
Estou começando agora e encontrei no seu blog ótimas considerações.

rdrgslsk@gmail.com