domingo, 20 de janeiro de 2008

Um passarinho me contou

Alto, esguio, trigueiro, topete eriçado como de um galo-da-serra. Assim era Passarinho, personagem que marcou época nas tribunas populares de Cidade Jardim. Sua origem e ocupação eram um mistério, ainda que alguns jurassem ser ele filho de um ex-milionário, que trabalhava como copeiro em uma mansão do Jardim Europa. Sua compulsão por jogar só em grandes favoritos da reunião e em apregoar aos quatro ventos, depois de virada a “pedra” (totalizador ainda não existia) que o seu escolhido era uma grande barbada faziam dele a figurinha carimbada das populares. Outra de suas manias era correr a toda os cem metros de uma cerca a outra quando os cavalos passavam por ali. Caso o favorito vencesse, Passarinho gritava, punho erguido, repleto de pules: “Eu não disse que era uma barbada?” Quando o favorito perdia, para escapar das vaias, o homem sumia, talvez se escondesse em algum banheiro, ou simplesmente pegasse o ônibus elétrico, cujo percurso de volta ao centro incluía a avenida Europa.

Não sei exatamente quando, provavelmente em meados dos anos 70, Passarinho desapareceu, sem deixar vestígios. Teria se mudado de cidade? Teria morrido? Ou apenas tenha pressentido o triste destino das tribunas, condenadas ao vazio por obra e graça de uma nova classe, a dos agentes credenciados. Mas, na memória de muitos, Passarinho continua vivo. Ele é o símbolo maior de um turfe que jaz enterrado nos limites de arquibancadas silentes.

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