terça-feira, 11 de março de 2008

Dose sim, dose não

Era um tempo em que os bookmakers pululavam por aí, atendendo aos clientes por telefone e ou em chimbicas espalhadas pela cidade. Muitos proprietários se especializavam em toda sorte de artimanhas para pegar no contrapé quem se atrevesse a bancar seus jogos. Danilo, objeto desta historinha, era um dos mais ardilosos, tendo a seu crédito a falência de muitos banqueiros.

Uma de suas tacadas que viraram lenda aconteceu graças justamente ao pior dos seus defensores, um quatro anos perdedor, acostumado a fechar o lote toda vez que corria. Danilo fez vir dos Estados Unidos o então dopping da moda, capaz de melhorar o bicho em mais de um segundo, e cuja mancha ainda não era identificada pela cromatografia. O nome, se bem me lembro, era “cardioby”,

Danilo sabia, já há algum tempo, que seu treinador passava informações de cocheira para alguns banqueiros, por isso armou o que lhe pareceu uma infalível ratoeira: colocou uma dose do estimulante cardíaco em um frasco sem rótulo e uma dose de glicose em outro. Em tirinhas de esparadrapo, escreveu “sim” em uma e “não” em outra. Entregou os vidrinhos ao treinador, devidamente “identificados”, com a recomendação expressa de que iria telefonar umas quatro horas antes do páreo em que seu matungo correria para dizer qual das doses deveria ser aplicada. Se a “sim”, o bichinho iria para “o pau”, se a “não”, a vitória ficaria adiada.

Na hora combinada, Danilo ligou para a cocheira, dizendo que os banqueiros não estavam querendo aceitar seu jogo, de modo que deveria ser aplicada a dose “não”. O golpe ficaria para outra ocasião. Claro que o treinador imediatamente passou a informação para os books, dizendo que poderiam aceitar o jogo do “patrão” sem susto. Nem passou por sua cabeça que a dose “não” era de estimulante cardíaco e que a “sim” era de glicose.

Naquela tarde, o matunguinho agradeceu a “ajuda“ e cruzou o disco na frente, rateando 20 por 1, o suficiente para “tirar do ar” uns dez banqueiros e para compensar o seu preço original em pelo menos cinqüenta vezes. Danilo já foi desta para melhor, mas o treinador ainda vive e certamente já se perguntou milhares de vezes: "Por que fui tão ingênuo?".

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