terça-feira, 8 de abril de 2008

Cábulas

Uma verdade incontestável: todo jogador, de qualquer espécie, é um ser supersticioso. Conta-se, a propósito, que Dostoiewsky, em vida um jogador compulsivo, não entrava nos cassinos sem antes murmurar fervorosamente preces ortodoxas. Pelo visto, sem muitos resultados, já que chegou ao fim de seus dias completamente endividado. Segundo um de seus biógrafos, o escritor russo precisou escrever às pressas uma de suas obras-prima, O Jogador, para cobrir as despesas do hotel onde se hospedava em Wiesbaden, depois de perder até o último tostão na roleta.

Tenho tido, ao longo dos anos, minha dose de supersticiosos, desde os que não dispensam um prosaico raminho de arruda na orelha, até os que cruzam os dedos às costas a cada largada, passando pelos que se servem da macumba para afastar mau-olhado ou os que se revoltam contra os deuses a cada pule furada.

Anselmo talvez seja o mais cabalístico de toda essa fauna. Já chegou ao extremo de viajar a Salvador com o único propósito de agradecer ao Senhor do Bonfim o fechamento de uma acumulada. Voltou com os joelhos em carne viva, mas feliz e agradecido.

Conheço também alguns que gostam de associar o próprio azar a atitudes de terceiros. Os chamados maniáticos. Mário, por exemplo, desiste de apostar toda vez que a pessoa que o antecede na fila do guichê opta pelo seu palpite. Danilo cancela as pules quando o animal que escolheu defeca no cânter. Francisco, há anos, só veste uma determinada camisa em dia de corrida.

De minha parte, faço força para acreditar que o sobrenatural nada tem a ver com o que acontece na raia. Que os resultados são fruto de variantes perfeitamente racionais. Mas, tal como o espanhol da fábula, não acredito em bruxas, pero que las hay, hay.

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